A sexta-feira se aproximava e junto com ela a ânsia de “fugir” para algum meio de mato aumentava. Como não tínhamos planejado nada, na quinta a noite resolvemos encontrar um lugar perto pra ir. Descobrimos um chalé na Serra da Cantareira. Por uns minutos fiquei pensando se a gente corria o risco de encontrar algum corpo desovado por lá. Mas mesmo assim resolvi aceitar a proposta…
Chegamos e já era noite havia um bom tempo. Aquele lugar é simplesmente um labirinto! Perdidos pelas estradinhas de terra que surgem do nada e te levam pra não sei onde, finalmente chegamos! Como já estava tarde, eles não ofereciam nada pra comer…
Mas o rapaz da portaria disse que entregavam pizza.
A pizza chegou. De barriga cheia e coração feliz, dormimos enquanto ouvíamos barulhos esquisitos vindo do mato do lado de fora… E eu não via a hora do sol sair e da noite virar dia!
Um detalhe importante: fazia bem pouco tempo que a gente tinha “embarcado” nessa onda de fotos de ave e estávamos gostando cada vez mais da ideia. Só que eu tinha uma lente 18-135mm… Ótima pra aves! Só que não… 😛
Depois de intermináveis 6 horas dormindo (ou tentando!) era hora de levantar, tomar um café caprichado, e sair perambulando pelo lugar… levando só câmera e água.
Pelo jeito fomos os primeiros a acordar e quando chegamos no ‘refeitório’ ————> ainda estavam terminando de colocar as coisas na mesa. Enquanto esperávamos, fomos dando uma geral pelo lugar. Mas olhei de novo para o rapaz que preparava a mesa do café e ele (além de meio sonâmbulo) estava todo descabelado! Sério! Ele tinha um cabelo loiro, liso, na altura da nuca, e acho que naquele dia ele não deu uma olhada no espelho ao sair da cama! Fiquei com medo de tomar o café, mas precisava comer alguma coisa! E um pãozinho na chapa não mata ninguém… E até que o café estava satisfatório, com todos os poréns…
Voltando do café, escutamos um barulho em cima da gente… Olhamos e lá estavam eles… 3 tucanos de bico verde! Lindos que só… E eu lá, com 135mm, quase puxando o bicho com a mão pra aproximar mais… Mas não foi por isso que deixei de fotografar!
Animados pelos 3 tucanos, corremos rumo a trilha, com medo de “perder” alguma foto… O lugar de fato é bacana! Uma curiosidade: “Nos séculos XVI e XVII a região era a rota dos tropeiros, comerciantes que se deslocavam por meio de carretas puxadas por cavalos. Estabeleciam o comércio entre a cidade de São Paulo e outras regiões do país, em especial Minas Gerais e Goiás. Esses armazenavam seus estoques de água em jarros chamados cântaros, colocados em prateleiras chamadas de “cantareiras”, razão do nome da serra.” (Valeu Wikipedia!) A mata atlântica sempre me faz sentir tão pequena! As árvores são tantas… e tão altas que saí de lá com dor no pescoço!
E por ela ser tão densa, fechada e úmida, é muito difícil de VER os bichos… mas, ouvimos vários. E como nessa época a gente mal conhecia o canto do tico-tico, era impossível decifrar quem estava cantando no meio daquele emaranhado todo. Passamos uma raiva danada! rsrs Hoje quando lembramos dessa ‘furada’, rimos muito! Não tínhamos ideia nenhuma sobre passarinhar, canto, que ave tem em qual lugar, como interagir com a ave… enfim, dois “passarinheiros” totalmente despreparados no meio da Cantareira, emburrados porque não fotografaram quase nada. Mas mesmo assim a gente se divertiu por lá…
Mesmo com toda dificuldade, conseguimos uma foto do barbudo-rajado. Nome que acabei adotando para chamar o Elton – já que agora sua barba conta com a presença (indesejada) de alguns fios brancos.
O Parque da Cantareira é imenso! E a gente não tinha ideia do tamanho e consequentemente do tanto que teríamos que andar. Pegamos a trilha até a Pedra Grande e depois de uma boa caminhada (9,5 km), chegamos! Da pedra é possível ver São Paulo e a faixa cinza que cobre a cidade.
E com um ‘super’ zoom de 135mm, fica tudo cinza!
Saindo da Pedra Grande, seguimos pela trilha infinita… e em algum lugar ali perto, vimos o socozinho, pronto pra dar o bote:
E por ali ficamos uns minutos…
Moral da história: se for sair pra passarinhar, se programe! É sempre bom dar uma pesquisada em quais aves vai encontrar, quais são seus cantos e por aí vai… Mas, nem repelente levamos! Passarinheiros de primeira viagem… Lembro até que vimos um grupo de ‘passarinheiros’ por lá. Eram uns 5 ou 6, e estavam todos de roupas camufladas, com perneiras, boné, gravador, binóculos, lentes enormes e quase fomos até eles avisar que não dava pra ver bicho nenhum… que seria melhor eles irem pra algum outro lugar! Ainda bem que não fizemos isso! Mas, o fato é que voltamos de lá tão tristes (e ao mesmo tempo irritados) por não termos conseguido ver quase nenhum bicho, que viemos correndo, loucos pra chegar logo no Parque das Águas (aqui em Campinas) porque pelo menos ali conseguiríamos ver joão de barro e garibaldi aos montes (tamanha era a nossa ânsia por fotografar aves naquele final de semana fatídico!) Ansiosos ao extremo e passarinheiros mirim, chegamos em Campinas e sem acreditar ou dizer nada um para o outro, paramos no tal parque e até arriscamos umas fotos… Advinha quem vimos por lá??
Mas naquele dia nem o garibaldi estava em seu melhor humor. Foi então que olhamos um pro outro e dissemos: o que estamos fazendo aqui nesse parque? Vamos pra casa agora!
É… realmente não era hora de ir em parque nenhum! A viagem é que foi esquisita. Mas já tinha terminado e já estávamos começando a rir de tudo. Uma viagem é boa, já outra, um fiasco… Não tem jeito, estamos sujeitos aos contra-tempos que aparecem pelo caminho. A diferença é como lidamos com isso. E se divertir com a situação costuma ser um ótimo remédio! 😀