Um belo dia o Elton chegou sugerindo da gente conhecer Tapiraí e lá fomos nós procurar onde ficar e como chegar nessa cidade. Encontramos uma pousada de nome diferente, e pelo que vimos era bem no meio de uma área enorme de Mata Atlântica… Só alegria!
Depois de uma longa estradinha de terra, e várias roncadas no estômago, chegamos na ‘Pousada Salve Floresta’: doidos pra comer algo. Detalhe: Combinamos com o Jeffer, por telefone, que iríamos apenas passar o dia, mas conversa vai, conversa vem, ficamos sabendo que havia um chalé vago. Fomos conhecer e gostamos tanto de lá que resolvemos ficar até o dia seguinte.
O almoço ficaria pronto em alguns minutos, e enquanto isso nos acomodamos e demos uma voltinha pelo local…
De repente um sino toca: almoço pronto! Um misto de fome e comida boa fez com que a gente comesse um pouco além da conta. Delícia de comida! É como se você estivesse comendo na casa da vó. Queria ir pra lá todo final de semana… rs
Com toda essa comilança, tivemos que dar um tempo pra conseguir andar de novo! Depois de fartos minutos saímos com câmera na mão, ouvidos apurados e olhos atentos. Nem fomos longe, já que no domingo de manhã faríamos uma trilha guiada pra explorar a ‘mata’.
O lugar é muito bonito e bem cuidado! Tem um estilo meio rústico e simples, mas muito aconchegante e de bom gosto. Adoramos a estadia lá! 😀
Por lá as placas ganham uma versão alemã:
Tem um lago bacana e espalhados ao redor dele estão os chalés. Numa das laterais do lago, bem próximo a ‘sala de refeições’, tem um comedouro. É claro que passamos um bom tempo por ali… Meio que hipnotizados com as saíras, que dominavam por lá. Além delas, vinham vários outros como tiê, sabiá, sanhaçu, cambacica, periquito… E ficamos admirados quando de repente chega um bando com uns 6 catirumbavas, fazendo a farra!
Andando um pouco mais, escutei um ‘grito’ conhecido… Enquanto o Elton se dividia entre fotografar ave ou inseto, olhei pra cima e vi o Supla! (Apelido carinhoso que demos ao Pica-pau-de-cabeça-amarela). Lá estava o bicho, bem no meio de um lindo galho, ‘no limpo’, sem nada na frente… formando a cena perfeita para um click… Que durou cerca de 2 segundos. Num ato de impulso levei a câmera no rosto, dei um click sem saber onde estava o foco… E lá se foi ele e a minha possível foto. Pois é… nada de foto do Supla dessa vez…
Viramos a esquerda e ouvimos um som agudo que lembrou algum arapaçu. Foi só parar por poucos minutos e logo vimos os danados. Primeiro encontro com o pequeno arapaçu verde.
Ainda no “cantinho do arapaçu” ouvimos um canto bem familiar e inconfundível: tangará! Passou meio curioso e rápido por nós, e sumiu na mata… Mas deu tempo de clicar o dançarino!
O Elton resolve então voltar pros insetos e já estava lá na frente. Enquanto eu ali no cantinho, olho pra cima e vejo um “bicho estranho” e na hora falo: “Elton, vem aqui ver que bicho é esse!”. Mas, ele não ligou muito para o ‘meu bicho’ e foi seguindo. Fiz uma foto rápida e fui. A noite fomos descobrir que era uma araponga-do-horto! Pois é… Nem pensei que fosse encontrar essa ave ali. Na verdade eu nem sabia dessa ave.
Conclusão, seria ótimo já conhecer todas as espécies ou ter um wikiaves com acesso mental. Se ao invés de dizer: ‘Elton, vem aqui ver que bicho é esse’ eu tivesse dito: ‘Elton, vem aqui fotografar a araponga-do-horto’, a história seria um pouco diferente, e com certeza as fotos também… Mas enfim, agora já sei como ela é. Dá próxima vez não tem erro! 😀
A noite caiu e lá fomos nós de lanterna e câmera na mão. O Elton se empolgou nas macros então ficamos um bom tempo procurando inseto, apontando a lanterna pra lá e pra cá e hora ou outra víamos algo se mexendo em alguma folha!
No dia seguinte, levantamos bem cedo e ao abrir a porta do chalé, friozinho e neblina!
Movidos pela fome, saímos rumo ao café da manhã. Uma pequena pausa no comedouro, que já tinha visitantes famintos, assim como nós! 😀
O café da manhã é outra delícia. Tudo fresquinho e quentinho. Frutas, geléias, bolos, pães, enfim, o negócio é bom!
A essa altura, a neblina já tinha ido embora e o sol começava a esquentar. Além de nós, tinha mais um casal formado de um alemão e uma indiana e mais um outro casal de Santo André que trazia com eles algumas pessoas, uma de cada país da Europa. Enfim, o grupo era muito diverso. Adoramos isso! E ainda pudemos treinar um pouco de inglês com eles. Mas é óbvio que o casal ‘germano-indu’ queria aprender português… rs
Todo mundo de bota, perneira e ‘cajado’ na mão, vamos que vamos. A mata exala vida; é imponente, com árvores enormes, bromélias diversas e gigantes. Tudo úmido, tudo pulsa.
Nessas horas me lembro daquelas plaquinhas que via na linha do trem que diziam: Pare. Olhe. Escute.
Caminhar pela mata é uma das coisas que mais nos dão prazer nessa vida! Nietzsche mandou bem quando disse:
Nós nos sentimos bem em meio à natureza porque ela não nos julga.
Em vários trechos andamos com a água na canela. Mas o calor era tanto, com aquelas botas de borracha, que a água gelada dava uma boa refrescada!
Apesar que num pequeno trecho a água subiu um pouco! 😀
A caminhada seguiu animada rumo a Cachoeira do Chá (uma das principais de Tapiraí). Fomos lado a lado com o Rio das Corujas; hora de um lado, hora de outro e algumas vezes no próprio rio.
Tapiraí nos cativou com sua riqueza natural; durante a trilha vimos palmeiras, jequitibás, jacarandás, samambaias e mais uma infinidade de espécies. E a fauna não deixa a desejar; várias espécies de aves, répteis, insetos e mamíferos tais como onça-parda, pintada, jaguatirica, anta e o sonhado mono-carvoeiro (espécie de macaco endêmico), sendo que esses dois últimos estão na lista de espécies ameaçadas.
Entre as altas árvores a luz do sol passa, deixando tudo mais bonito e vivo.
A cachoeira, com seus quase 30 metros, tem seu charme. Mas o melhor é a qualidade da água: cristalina! ‘Crystal clear’, como dizem.
‘Os gringos’ se esbaldaram na cachoeira, enquanto eu e o Elton tiramos algumas fotos e batemos um papo com o Jeffer – que foi quem nos guiou, além de contar histórias da região. Seguindo o padrão da pousada, Jeffer contava as histórias em português e em seguida mudava pro Alemão. Ele é tão tranquilo que pela primeira vez vi alguém falando alemão sem parecer que está dando bronca em alguém! Brincadeirinha! 😛
Acho que não preciso falar que adoramos o lugar e que só de escrever aqui a vontade de voltar aumenta.
Pra quem gosta de natureza, de relaxar depois de uma bela caminhada, comer muito bem, ter um ótimo atendimento, esse é o lugar!
No vídeo que fizemos dá para ter uma ideia de como é aquele lugar:
Vimos outras aves durante a trilha, mas não conseguimos foto. Fotografar na mata atlântica não é das coisas mais fáceis de se fazer: exige tempo, calma e muita paciência.
Por isso a vontade tão grande de voltar. Quem sabe na próxima não encontramos o mono-carvoeiro?
Por hora só nos resta pedir: Salve a Floresta de Tapiraí!